Um grande amigo, chamado Gustavo Brusch, sempre me dizia: Bruxo, a vida fala contigo todo dia, basta tu escutar ela. As vezes, ela te dá na cara pra vê se tu acorda. Digamos que esse foi o primeiro tapa na cara que tomei na Terra do Tio Sam.
Na noite que fui no CTG e ganhei meus primeiros dólares dançando música tradicionalista gaúcha, conheci algumas pessoas, que acabei convivendo por algum tempo. Uma dessas novas amizades se chamava Adriana (nome fictício), mineira, mãe de duas filhas adolescentes, babá de cachorros, uma mulher guerreira e batalhadora.
Como eu estava muito cansado, pois tinha trabalhado muitas horas durante a semana, chegou um momento do baile gaudério que eu sonhava com minha cama. Foi no momento em que Adriana, que estava conversando comigo na roda de amigos, comentou que iria embora, pois as filhas a esperavam para dormir. Não pensei duas vezes e pedi uma carona. No caminho até meu albergue, ela contou-me que no outro dia era aniversário de uma das filhas, e que todas as pessoas que eu conhecera a poucas horas estariam presentes na festinha que ela daria à caçula.
Como estava atrás de amigos e emprego, aceitei na hora o convite. Então, deixamos combinado que ela passaria às dez horas para me pegar, já que iria buscar algumas amigas das filhas que moravam perto da minha casa. A festa tava bem legal, tomamos algumas Hinneken´s e comemos salgadinhos e cachorro-quente. Adriana comentou que estava precisando de uma ajudante para cuidar os cachorros, e perguntou se eu tinha interesse. Respondi que sim, e me prontifiquei para aprender o serviço.
Comecei a acompanhar o serviço dela no outro dia. Saíamos cedo e ficávamos o dia inteiro na rua passeando com cachorros. O trabalho era legal e fácil, o único perigo era algum dog se estranhar contigo e te morder, ehehe, só isso! Acompanhei ela durante uma semana, portanto, inevitavelmente, acabamos falando um pouco de nossas vidas uma para o outro. Foi quando tive minha primeira lição americana.
Já era noite em Nova York, tínhamos recém acabado de cumprir os horários que estavam planejados para o dia, quando Adriana parou em um posto para comprar água e balas para a filha mais nova. A mineira voltou da loja de conveniência com duas garrafas, me entregou uma e abriu a outra para ela e disse: “Trouxe uma água para ti, pois tenho o costume de tomar separada dos outros, mesmo que eu não passe a doença para ninguém. Vai saber se a pessoa é preconceituosa, né!? Na maior ingenuidade abri minha garrafa e perguntei: Que doença? Ela respondeu na lata: “Sou soro positivo (portadora do vírus HIV), mas não passo para ninguém! Tenho o vírus estabilizado, completou Adriana.
Não sei se foi instinto, mas na hora respondi que não tinha preconceito, e ela acabou me contando toda a história. Adriana era casada com um porto-riquenho, com quem já tinha uma filha de dez anos. Ela não sabia, mas o maridão era viciado em drogas, pior, usava as injetáveis. Existem bastantes usuários de heroína nos EUA, o marido de Adriana era um deles. O casamento já não vinha bem e numa das noites, ele chegou alterado em casa, estuprou Adriana, engravidando-a de Linday, transmitindo-a o vírus HIV.
Como ela diagnosticou a doença ainda na gravidez da caçula, a menina nasceu sem o vírus e Adriana não o deixou desenvolver-se em seu organismo. As duas têm vidas saudáveis e sem maiores problemas. Ambas levam um cotidiano normal, como qualquer outra pessoa. Conheci a menina, ela é linda, cheia de energia e sonha ser modelo. Quanto a Adriana......convivemos mais um pouco, até eu conseguir outro emprego numa churrascaria e nossos horários não baterem mais. Mantemos contato por telefone até minha ida para Weast Cost, depois nunca mais tive notícias. A lembrança é de uma mulher feliz e vencedora, uma pessoa que me ajudou muito, além de ser um baita case para dar força ao começo da minha busca na terra dos yankes.
Como disse no começo do post, Adriana é MINEIRA, e o que mais tem na East Coast é mineiro, sabe por que? Por que existem muitos coyotes na terra do pão de queijo, que atravessam brasileiros ilegalmente com a promessa de uma vida melhor na Terra do Capitalismo.........mas isso eu conto no próximo post, com o começo das história dos mineiros, paulistas, dos brasileiros e suas travessias pela fronteira com o México.
Até mais, grande abraço.
Fotos: Arquivo/Deivid Couto
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