A Associação de Surfe Praias de Itajaí (Aspi) anunciou, na última segunda-feira, que a etapa itajaiense do WQS, a divisão de acesso do circuito mundial de surfe, foi cancelada. A competição seria realizada na Praia Brava, entre os dias 5 e 10 de outubro.
Segundo Cristhyan Corrêa, da Aspi, o motivo da cidade não ser mais sede de umas das etapas do Mundial foi o desligamento de um dos patrocinadores âncoras, já que o apoio da Prefeitura e do Governo do Estado já estavam garantidos. Itajaí sediou as etapas nos anos de 2007 e 2008.
O que está acontecendo com o surfe da região do Vale do Itajaí? Acabaram-se as competições! Em Balneário agora tem uma nova Associação de Surfe, a OSBC, já que a antiga, Associação de Surfe de Balneário Camboriú (ASBC), deve mais de R$ 90 mil ao município desde 2007e não tem promovido competições, pois está impossibilitada de receber qualquer recurso municipal, estadual ou federal, pois está com o CNPJ sujo.
Como a cidade é uma das maiores fabricantes de atletas, a desorganização dos cartolas da região vem refletindo nos resultados de âmbito estadual. Esse ano, a equipe catarinense trouxe um modesto quinto lugar do Brasileiro Amador, disputado em Vila Velha, no Espírito Santo.
O que os cartolas do surfe estão fazendo com o esporte na região?
Devido a isso, resolvi interar-me do esporte mais tradicional desta terra linda e maravilhosa que é a Santa & Bela. Qual a minha surpresa? Que além dos nove títulos catarinenses por equipe, os irmãos, campeões mundiais, Teco e Neco Padaraz começaram na modalidade na Associação de Surfe de Balneário Camboriú (ASBC).
Mas descobri mais! Descobri que James Santos trouxe da Califórnia para Balneário um mundial de surfe amador. Descobri que Ícaro Cavalheiro, natural da ilha das Cabras, e Luli Pereira, foram campeões catarinenses em todas as categorias: mirim, júnior, open e profissional. Atualmente, eles são árbitros da primeira e da segunda divisão do surfe mundial.
Descobri também, que vem surgindo um novo nome no cenário mundial: Willian Cardoso, atual 32° do World Qualifying Series (WQS), é presença confirmada na lista provisória dos dez surfistas que serão indicados pelo ASP World Ranking para a elite do surfe mundial no ano que vem.
Entusiasmei-me e pensei: Vai dar uma matéria legal! Fui, então, saber sobre os campeonatos e os circuitos que rolam na cidade mais tradicional do surfe catarinense. Qual a minha segunda surpresa? Que de 2006 para cá, os números de competições vem caindo drasticamente.
As competições sumiram
Para se ter uma ideia, em 2006, foram realizados quatro campeonatos Pro AM (campeonato profissional onde os amadores podem ganhar 50% da premiação), três etapas estudantis, uma etapa do campeonato Catarinense Profissional e o Surfe Games (interassociações catarinenses).
Em 2007, teve um Pro AM e um estudantil a menos. Já no ano seguinte, a cidade seguiu com os três Pro AM, os dois estudantis, voltou a ter o Surfe Game e o Catarinense Profissional. Porém, em 2009, rolaram apenas dois campeonatos amadores. O mesmo número desse ano.
Segundo Saulo Lira, assessor de imprensa da Fundação Municipal de Esporte de Balneário Camboriú (FME), em 2010, Balneário Camboriú só teve duas competições: uma promovida pela ASBC e outra realizada pela OSBC.
Não consegui entender como uma cidade que é uma fábrica de campeões e tem uma associação de surfe tão respeitada, que chegou a ter dez etapas de circuito local em um ano, possa ter apenas dois campeonatos amadores durante 365 dias. Corri atrás para tentar achar o motivo e acabei descobrindo que existia a Liga de Esportes Radicais de Balneário Comburiu (Lerbc).
A Lerbc foi fundada no dia 12 de maio de 2003, com a função de dar suporte às modalidades não olímpicas de Balneário, caso do surfe. No dia 27 de novembro de 2007, a câmara de vereadores de Balneário Camboriú aprovou e sancionou uma lei que autoriza a o poder executivo, através da FME, a repassar a bagatela de R$ 126 mil à Lerbc pra divulgar o esporte do município e incentivar a prática esportiva.
O primeiro artigo da lei é claro, e diz que a entidade é obrigada a apresentar as contas do ano anterior ao setor de controle interno do município para poder receber a verba novamente no ano seguinte. Caso contrário, o repasse do dinheiro seria suspenso.
Elder Leão, presidente da Lerbc de 2004 a 2009, atualmente vice-presidente da Federação Catarinense de Surf (Fecasurf), diz que, entre 2007 e 2009, a liga realizou 133 eventos com a verba da lei nas 21 categorias que integravam a entidade.
Ele também afirma que prestou contas ao município e que a Liga está com o CNPJ limpo para receber recursos, mas que por divergências políticas não viu a cor do dinheiro “Depois que mudou o governo, não recebemos mais nada da prefeitura. A fundação não quis mais nos ajudar, foi uma baita sacanagem”, diz Leão, que também foi presidente da ASBC em 2006 e 2007.
Elder ainda falou que agora, em vez de repassar a grana pra Liga, a FME distribui uma mixaria pra cada associação. “Ao invés de darem o valor proposto por lei, eles repassaram R$ 8 mil para cada entidade. Com esse valor não dá pra fazer muita coisa”, afirma.
Entretanto, o problema do surfe camboriuense não é só porque a verba da lei não vai mais pra liga, mas sim, porque a FME não pode repassar recurso para a ASBC porque o CNPJ da associação, esse sim, está sujo.
Dívida da ASBC é maior do que se pensava
Conforme a controladoria Geral do Município, a ASBC deve ao município R$ 91 mil. A dívida é oriunda da gestão de Élder Leão, e é referente à falta de prestação de contas dos anos de 2006 e 2007. O caso está com a procuradoria Judicial do Município e agora será feita a cobrança judicial.
Em 14 de novembro de 2008, o Ministério Público pediu a controladoria Geral do Município que apresentasse a documentação referente às verbas destinadas a ASBC. Como Élder só apresentou as cópias dos documentos pedidos, sem os originais, e não recolheu INSS, a comissão Especial de Tomada de Contas concluiu que a associação deu prejuízo ao município e que o convênio existente entre prefeitura e ASBC teve desvio de finalidade.A comissão ainda relatou no processo, que as declarações do ex-presidente foram evasivas, e que o próprio Élder reconhece isso. “Faltou conhecimento na prestação de contas”, diz o ex-presidente da ASBC.
Sandro Bernardone, superintendente da FME, disse que não tá podendo repassar nada de dinheiro pra ASBC por causa da dívida e que o perrengue continuará até ela prestar conta ao ministério público. “Não posso dar verba a ASBC enquanto o CNPJ estiver sujo. Mas os campeonatos não são feitos pelo poder público, nós apenas ajudamos a viabilizá-los”, afirma.
Fotos :Deivid Couto