Como sempre fui "peitudo", só fui me dar por conta do que estava fazendo (indo para um país com pouco dinheiro, sem falar a língua e sem nenhum contato) quando desembarquei no John F. Kennedy, passei pela imigração, peguei minha mochila , fui em direção a porta de saída do aeroporto e me deparei com aquela selva de pedra na minha frente.
Logo pensei: Caramba! O que estou fazendo aqui?
Parecia uma barata tonta olhando para os lados. Era muita informação na minha frente. Eu tinha um endereço de um albergue e a dúvida se tentava chegar no local de metrô, taxi ou de ônibus, mas sinceramente não consegui me mexer do lugar, começou a passar um filme na minha cabeça.....nossa, e que filme.
Mas como diz a lenda urbana, todo corajoso tem sorte, e comigo não foi diferente. Em todo momento, dos meus 11 meses nos EUA. que passei por um perrengue, veio uma santa alma e me ajudou . Segundo uma guru minha, meu mentor é muito forte, por isso sempre estou protegido pelo meu anjo da guarda nos momentos mais difíceis.
Essa santa alma se chamava Jhony, ele trabalhava carregando carrinhos no aeroporto e percebeu que eu estava apavorado, sem saber o que fazer. E com um belo sorriso me perguntou: Where you from, man?
- I´m from Brasil, respondi.
- Yeah! I Love Brasil, I like Brasilian women´s, man!
Com meu inglês enferrujado, consegui me comunicar com Jhony e entender como chegar no albergue. Ao chegar na minha nova casa, ou melhor, no novo quarto, desarrumei a mochila, comprei um café e um caderno para começar a anotar toda minha experiência na terra do Tio Sam. Ta e agora, o que fazer? Com o mapa da cidade, subdividi em áreas a metrópole americana e sai de rua em rua procurando trabalho. Quais eram minhas diretrizes para conquistar o objetivo? Nenhuma (risos)!
Afinal, estava procurando emprego aonde todos meus amigos que já tinham morado fora do país tinham conseguido trabalho: em restaurantes. Tá, mas e como conseguir emprego em restaurante se nunca trabalhei em um? Só comecei a pensar nisso lá, quando os caras me perguntavam o que eu sabia fazer e eu ficava com cara de tacho sem saber o que dizer. Foi aí que veio a segunda alma para me ajudar.
Júnior era um baiano “mucho loko“, que morava em nos EUA há 6 anos. Filho de pais de classe média alta, ele migrou para a terra dos yankes pelo mesmo motivo que muitas outras pessoas: se desprender dos traumas e viver na essência sua real identidade, ou seja, o cara era homossexual. Como éramos vizinhos de quarto, e o banheiro era coletivo, nos deparamos no corredor e ele me perguntou se eu era brasileiro. Disse que tinha visto minha movimentação atrás de trabalho e que talvez pudesse me ajudar. Ele trabalhava num pub/restaurante português em Newark (NJ), uma cidade que fica ao lado de NY, na região da East Coast, e comentou que o Dishwashing (lavador de prato) do restaurante tinha saído.

Aguentei um mês e meio o trabalho até conseguir outro trabalho. Com certeza foi a pior experiência profissional que tive na vida. Mas foi bom, aprendi bastante sobre a cultura mexicana com meus patrões mexicanos e entendi que iria sempre trabalhar no famoso subemprego enquanto tivesse na Terra de Ninguém.
OS PRIMEIROS DÓLARES
Na região onde eu me encontrava, a East Coast, existem muitos imigrantes portugueses e espanhóis. Os portugas possuem além de restaurantes, mini-mercados. E como eles falavam minha língua, também fui procurar trabalho com eles, pois na minha cabeça, como eu já tinha trabalhado como promotor de vendas no Brasil, poderia arranjar um Job arrumando prateleiras. Porém, minha idéia tava errada, mas como diz aquele outra velho ditado: quem procura, acha, eu achei um paranaense que me ajudou.
Ao ouvir meu sotaque gaúcho quando perguntava para o gerente se não tinha um bico para eu ganhar uma graninha, ele se atravessou: Mas bah tchê, com esse sotaque tem que saber fazer uma carne! Muito alegre pela abertura do cara, comecei a trocar uma idéia com ele. Como não falo quase, despejei uma série de perguntas para o camarada paranaense, afinal, já estava há cinco dias lá e nada de trabalho. Para minha sorte, os caras eram loucos pelo tradicionalismo gaúcho e mantinham um CTG na cidade. Detalhe, isso era um sábado e eles fariam um carreteiro e teria um baile gauchesco na noite. Ele me convidou e disse que seria legal, já que eu conheceria outros brasileiros que poderiam me ajudar na busca por um trabalho.
O que eles não sabiam é que dancei anos no Grupo Tradicionalista do Colégio Medianeira, em Santiago (RS) . Veja como são as coisas. Conversa vai, conversa vem, comentei que sabia alguns passos de chula. Como a galera já tava meio alcoolizada, acabei sendo questionado se realmente tinha o conhecimento sobre a dança . Retruquei e disse que só faria se pagassem pela demonstração. Pra que! Além de puxarem U$ 50 do bolso, me deram a pilcha completa e o gaiteiro tocou a chula. Como dançar chula é como andar de bicicleta, quem aprende nunca esquece, fui lá com esse meu rosto e dancei para mais de 100 pessoas, conseguindo alguns aplausos e meus primeiro dólares na América.
Dessa noite, ficaram alguns parceiros e a trilha para novas peripécias que conto para vocês no próximo post.
Abraços
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