Passei a vida inteira viajando, literalmente. Sou filho de bancário, então, na infância, de três em três anos, ia com minha família para uma cidade que meu pai fora transferido a trabalho. Já na adolescência, acabei viajando bastante por causa do esporte. Joguei tênis e futebol de alto rendimento, portanto, estava sempre envolvido com uma viagem de campeonato. Choro por uma trip. Conheço bastante lugares por esse Brasil. Mas a trip que vou começar a contar aqui no blog é da última aventura que tive nos Estados Unidos da América.
Morei por duas oportunidades na terra do Tio Sam. A primeira em 1998, quando fui jogar futebol na Flórida, numa das melhores academias esportivas do mundo, a Nick Bolletieri Tennis Academy, à convite do técnico de futebol Ivo Wortman. A segunda, em 2007, já jornalista formado, sem nenhum contato no país, cheio de sonhos e começando uma busca pessoal, profissional e espiritual, com uma mochila nas costas, 930 dólares no bolso, mas com a cara e a coragem de geminiano nato. Acabei indo para os EUA, pois já possuía visto para o país da primeira estada na década de 90. O negócio era se jogar no mundo mesmo. O importante para mim sempre foi o novo, o difícil, as novas experiências, algo que pudesse colaborar para meu crescimento, claro, sempre me divertindo.
Quis o destino que eu caísse em New York, ou melhor, quis meu amigo Ronaldo que numa pilha muito forte, me fez desembarcar na selva de pedra nova-iorquina com apenas um endereço de albergue, uma passagem de volta para o Brasil, um maço de Malboro e uma jaqueta de couro que não ajudava nada na nevasca que peguei quando cheguei à babilônia americana.
O começo foi difícil, afinal, meu inglês tava enferrujado e onde tinha trabalho, restaurantes e obras, eu não sabia fazer nada, além de eu ter ido para um lugar que não conhecia uma viva alma. Acabei conseguindo trabalho em New Jersey, ao lado de New York, e fui morar por lá. Como qualquer outro mortal que já passou por essa situação na gringa, não tem outro jeito de começar a trabalhar se não for lavando pratos. Foi a pior experiência que tive na minha vida, lavava tudo num restaurante português durante 12 horas por dia, mas faz parte....tava no cronograma de perrengues.
Eu chegava todo dia às 3h da manhã do meu albergue, que tinha mais 11 quartos no corredor, e dois banheiros para todo mundo que ali morava. Gente de tudo que é tipo, de pedreiro até maluco, clima bem pesado. Tinha um cara que sempre quando eu chegava, tava dizendo que não aguentava mais a vida, que queria se matar, que ia explodir o corredor. Adivinha? Brasileiro, carioca, maluco em depressão. Nunca vou esquecer o que ele falava: Isso aqui é terra de ninguém!
A minha sorte que acabei fazendo amigos no jogo de futebol do parque da cidade. Além de me relacionar com outras pessoas, consegui um trabalho novo e uma casa nova. Fui morar com Alison e a com a dona Lurdinha, dois mineiros dos bons, e trabalhar numa churrascaria de um gaúcho gente boa pra caramba, seu Ademir, colorado doente.
Essa churrascaria era um antro de brasucas, de tudo que é lugar que tu possas imaginar. Se tratando de escola para a vida, e foi isso que fui buscar, essa churrascaria me ensinou muito. Primeiro ninguém estava na mesma situação que eu, quase todos pagaram em média de 12 mil dólares para COYOTES atravessá-los ilegalmente pela fronteira com o México, eram indigentes, estavam ali para mandar dinheiro para seus familiares no Brasil. Mas claro, primeiro o pagamento do agenciador. Geralmente, os brasileiros ilegais trabalham um ano só para pagar a despesa com o atravessador, ou seja, 12 parcelas de mil dólares.
Partindo desse fato, comecei a entender porque o maluco no albergue gritava: Isso aqui é terra de ninguém! Lógico, tá cada um correndo atrás do seu. Cada um por si e Deus por todos. Vi de tudo no expediente de trabalho: trairagem, tráfico, putaria, máfia, tá loko... Acontecia coisinha no trampo. Mas como todo lugar também existia pessoas boas, que irão ficar na memória por algum momento compartilhado com o autor.
Depois de cinco meses passando carne na churrascaria, tomando uns choops escondidos, e fazendo bolhas nos pés com um sapato de “dez doletas”, juntei a grana para atravessar o país e encontrar meu amigo André em Los Angeles, depois de dez anos sem vê-lo. Mas antes de contar as minha peripécias na West Cost, irei relatar em futuros post, algumas situações inusitadas que vivenciei na cidade de Newark, estado de New Jersey.
Com certeza vale à pena conferir!
Até o próximo post,
Abraços
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