“Eu FOI uma vez para Viamão, minha esposa é de lá”, o erro gramatical com o sotaque bem carregado, possibilita perceber que a língua portuguesa não foi o primeiro idioma aprendido pelo barbeiro Telmo Ferreira.
Percebi na hora e perguntei: De onde você é?
- Sou de Pernambucano, mas vivi muitos anos na Guiana Holandesa e na Holanda.
Ferreira é fruto de um relacionamento que começou em 1960. O brasileiro José Teófilo Rocha Ferreira foi passar férias em Guiana Holandesa, Suriname, e conheceu Lucila Johana, uma holandesa que vivia por lá. Teófilo era Campeão Brasileiro de Fisiculturismo, portanto, fazia o biótipo grandão, todo bonitão, o que acabou conquistando Lucila. Eles casaram-se e foram morar em Olinda, Pernambuco.
Em 1963, nascia o segundo filho do casal: Telmo Ferreira, 47 anos, 22 deles radicados em Balneário Camboriú e há 14 cortando cabelos e barbas de muitos outros brasileiros que vivem ou passam pela Maravilha do Atlântico.
E como ele veio parar aqui?
Então, continuando......
De Olinda, a família Ferreira voltou para Guiana Holandesa, pois o avô de Telmo tinha fazenda no Suriname. Na época, ele tinha 2 anos, então, pouco se lembra da famosa cidade brasileira onde nasceu. “Eu não conhece Olinda. Só nasci lá”, diz o barbeiro.
Com a separação de seus pais, Ferreira mudou-se, em 1970, com a mãe para Holanda, onde viveu até os 16 anos . Dona Lucila tornou-se chefe costureira do Hospital da Marinha. Lá acabou conhecendo um oficial, com quem posteriormente se casou e voltou para Guiana Holandesa. Telmo foi junto, contrariado!
Com 19 anos, e vagas lembranças do pai, o brasileiro resolveu ir atrás do “seu velho”, já que tivera convivido poucos anos com ele. A informação que o jovem tinha era que Teófilo estava casado novamente e vivia com a mulher e três filhos em Boa Vista, Roraima.
Ao chegar lá, frustração. “Foi difícil a comunicação, pois eu só falava inglês. Quando cheguei lá e na suposta mulher, ela já era ex (risos). Mas ela me falou que ele estava morando em Porto Velho, Rondônia. Então parti a seu encontro”, lembra.
Chegando a Porto Velho, Ferreira não encontrou só o pai, mas também a sua primeira esposa e o caminho para o litoral norte catarinense. Durante quatro anos, o barbeiro foi tradutor em hotéis no estado de Rondônia.
Num dia, trabalhando em Ariquemes, interior de Porto Velho, Telmo conheceu um casal de Holandeses que vieram tentar a vida no Brasil em plena 2ª Guerra Mundial. Esse casal tinha uma filha, que se tornou a primeira esposa do barbeiro. A convite dos sogros, Ferreira chegava a Balneário Camboriú no ano de 1988.
O barbeiro revelou o porquê de escolher o Vale do Itajaí para viver todos esses e os próximos anos de sua vida. “O clima do Brasil é parecido com o da Holanda, principalmente aqui no Sul. Tem sol, chuva, frio, calor. O povo é mais germânico e também gosto de pescar, além de ter tudo que preciso e ser muito bonito”, declara Ferreira.
A família é grande
No total, Ferreira tem 12 irmãos. Oito por parte de pai e quatro por parte de mãe. O barbeiro poliglota - ele fala holandês, alemão, inglês, português, francês e tak (africana), tem “brother” espalhados por vários lugares do mundo.
Segundo ele, a única irmã que ele não conhece é a mais nova, fruto do casamento da mãe com o padrasto, mas disse que logo pretende visitá-la na Europa. “Tenho irmãos aqui no Brasil, no Suriname, na Bolívia e na Holanda. A mais nova está estudando para ser juíza (na Holanda) e quando der vou conhecê-la”, comenta Ferreira.
Telmo está no seu terceiro casamento e tem três filhos: uma menina, que vive em São Paulo (21 anos), e dois meninos (7 e 9) que moram em Balneário, frutos dos dois primeiros relacionamentos do Pernambucano. Há três anos ele é casado com uma gaúcha de Viamão e reside em Camboriú.
Mais de duas décadas.
Mais de duas décadas.
Esse foi o tempo que Ferreira ficou sem ver dona Lucila, sua mãe. Depois da chegada no Brasil (1984), o barbeiro só voltou ao Suriname em 2007, 23 anos depois da sua partida. “Eu tinha problemas com meu padrasto, não aceitava ele. Mas agora tudo mudou, foi muito bom revê-los, tenho tudo gravado em vídeo, foi emocionante”, conta o barbeiro.